Até quando suportar a agressão?
Saiba qual estratégia usar no Brasil para não se tornar refém do abuso
Recentemente, uma americana que era frequentemente agredida pelo namorado resolveu reagir, ou melhor, agir. Contudo, o meio utilizado foi bastante inusitado. Numa tentativa desesperada de se desvencilhar dele – que estava em sua casa, bêbado e a havia agredido violentamente –, a mulher teve que manter a calma necessária para colocar um plano em ação.
Ela
ligou para o número de emergência nos Estados Unidos para pedir uma
pizza. Entretanto, a atendente estranhou tal “pedido”. A ligação, na
verdade, era um pedido de ajuda, mas o agressor não podia perceber. O
mais interessante nisso tudo é que a atendente, em segundos, teve a
sensibilidade de entender o recado e, após desligar o telefone,
identificou que no local já havia outros registros de violência
doméstica e mandou imediatamente uma viatura para a residência dela. O
agressor foi preso em flagrante.
Minuto a minuto
Esse
episódio de agressão contra a mulher não foi o primeiro, tampouco será o
último. Infelizmente, casos como o da americana ocorrem minuto a minuto
no mundo todo. Por isso, não é preciso estar na Índia, um país marcado
pela violência doméstica, onde 54% dos homens acham normal bater em
mulheres, para se deparar com eles.
No
ano passado, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou
um estudo que mostrou que entre 2009 e 2011 o Brasil registrou 16,9 mil
feminicídios (mortes de mulheres). A situação é tão grave que
instituições privadas se empenham em combater esse grande mal.
A jornalista Vanessa Freitas, de 38 anos, poderia figurar nessas estatísticas, se não tivesse encontrado ajuda no Projeto Raabe (conheça mais a respeito no boxe). Após viver uma infância marcada pela falta de amor, repleta de agressividade e abusos físicos e emocionais, Vanessa cresceu se sentindo a pior das mulheres. Adulta, sentiase incapaz de merecer amor, pois se achava indigna, e o que é pior: se culpava por tudo de ruim que faziam com ela ou que lhe acontecia.
“Agressões,
xingamentos, ausência total de afeto, abandono emocional e privações
produziram em mim a absoluta certeza de que eu era um nada, incapaz e
inferior a todas as outras, uma menina má que nunca deveria ter
nascido”, relembra.
As
feridas emocionais aliadas à sede de amor e ao desespero por afeto que
ela carregava havia anos começaram a falar mais alto e, inclusive, a
determinar as suas escolhas. Assim, depois de muito tempo tentando
encontrar a felicidade no amor, perto de completar 30 anos, Vanessa
conta que se envolveu com um rapaz bastante complicado, infiel e cheio
de problemas.
“Ele
nunca escondeu quem era. Na verdade, eu que fui tola em achar que ele
poderia mudar, o que em seis anos de relacionamento nunca aconteceu.Eu
não recebia amor, carinho, tampouco respeito. Ele me torturava com
agressões físicas e verbais, acusações, ameaças e intimidação. Cheguei a
pensar que ele usava drogas e, por isso, agia daquele jeito, mas o
problema era ele mesmo”, conta.
Vanessa
diz que aquele relacionamento se tornou um fardo pesado e doentio. Foi
assim que ela conheceu o Raabe. “Estava exausta, sem esperança e sem
forças. Viva por fora e morta por dentro. Fui ouvida e acolhida ali. O
apoio emocional e espiritual que recebi no projeto foi essencial para eu
tomar as decisões que precisava e banir para sempre a violência
doméstica da história da minha vida”, pontua.
Vanessa
hoje faz questão de enfatizar que mulheres inteligentes podem lutar
pelos outros, mas primeiro precisam lutar por si mesmas. Quando isso
aconteceu com ela, tudo se renovou. “A confusão e o medo foram embora.
Hoje, vivo feliz e em paz”, garante a jornalista, que teve um filho
neste relacionamento conturbado e com ele vive atualmente longe dos
traumas e das dores.
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